Você sabe o que é um trauma de infância? Cuidado, você pode está sendo confundido com muitas abordagens sem saber do que realmente acontece…
É muito comum ouvirmos frases como “sou ansiosa” ou “apanhei e não morri”.
Por mais que estas frases soam como naturais, elas carregam inconscientemente, uma grande dose de sofrimento vividos ao longo da infância.
Nas próximas linhas você vai compreender melhor o que são os traumas de infância e como eles impactam na vida e nos resultados do adulto.
O que é um trauma de infância?
A palavra trauma tem sido usada tão vagamente para definir uma infinidade de problemas, que é comum encontrarmos muitas definições.
Mas eu escolhi usar duas nas quais acredito e fazem muito sentido na minha visão como profissional da saúde e do comportamento humano.
De acordo com o especialista em trauma Bessel Van Der Kolk, autor de The Body Keeps the Score, entender como o trauma afeta o corpo pode nos ajudar a distinguir entre trauma verdadeiro e incidentes, que, embora angustiantes, não são realmente traumáticos.
Segundo ele, o trauma é um evento que sobrecarrega o sistema nervoso central, alterando a maneira como processamos e lembramos a situação. “Trauma não é a história de algo que aconteceu naquela época… É a marca atual dessa dor, horror e medo que vivem dentro das pessoas.”
Segundo o Dr. Bruce Perry, médico americano e psiquiatra especialista em traumas de infância, o trauma é algo subjetivo e por isso tão fácil de ser mal interpretado, mas sempre será relacionado a um evento negativo.
Neste artigo eu vou explicar melhor alguns exemplos e dados que comprovam o impacto dos traumas de infância na vida do adulto, continue a leitura.
Como o trauma infantil influencia a saúde do adulto?
O trauma muda a biologia de nossos cérebros, distorcendo nossos pensamentos para que nos culpemos e queiramos esconder nossos medos e vergonhas, causando estragos em nossas vidas.
O trauma envelhece nossas células além de sua idade cronológica, altera hormônios e neurotransmissores e altera a expressão gênica de maneiras que podem ser transmitidas para as próximas gerações pelos mecanismos epigenéticos.
Ele também sobrecarrega nossos mecanismos de enfrentamento e nos deixa diferentes, mudando a forma como vemos o mundo e a nós mesmos a partir do evento traumático.
Há um famoso ditado popular que diz: “O que não me mata, me fortalece” ou “apanhei e não morri”, como mencionei no início deste artigo.
É importante entender que enfrentar adversidades podem nos deixar mais resilientes, mas não é verdade que o que não nos mata nos torna mais fortes.
Segundo Conti, em seu livro A epidemia invisível: como funciona o trauma e como podemos nos curar dele, o trauma que não nos mata pode nos tornar mais fracos de várias maneiras. Pode nos predispor à depressão, problemas de sono, ataques cardíacos, derrames, doenças imunológicas, e podemos passar isso para as crianças, mesmo que as crianças sejam concebidas anos depois.
Quais as consequências dos traumas infantis?
Dr. Felitti e Dr. Robert Anda, juntos fizeram um dos maiores estudos de saúde pública do mundo sobre os impactos dos traumas de infância na vida adulta e descobriram as 10 maiores experiências adversas da infância (ACE) mais frequentes. São elas:
- Abuso físico: tapas, surras, lesões ou fraturas resultados de bater, socar, chutar, sacudir, queimar, jogar ou esfaquear uma criança;
- Abuso sexual: exposição a pornografia, imagens obscenas, toques no corpo em um partes íntimas com ou sem a consumação do ato íntimo;
- Abuso emocional: gritos, menosprezo, rejeição, ridicularização, críticas, ameaças, proibições de relações sociais, ignorar a criança por longos períodos;
- Negligência física: deixar passar fome, sede, frio, ficar doente e sem supervisão de um adulto;
- Negligência emocional: deixar a criança chorar, negar apoio social ou tratamento mental necessário;
- Doença mental de um dos pais: convívio e dependência dos cuidados de um adulto com problemas mentais;
- Pai ou mãe encarcerados: pode causar traumas ou sentimentos de abandono para a criança;
- Violência doméstica: mãe ou qualquer cuidador sendo atacado, machucado ou ferido é traumático para a criança;
- Abuso de substâncias: condições de insegurança e ambiente tóxico com predisposição para outros abusos;
- Divórcio ou perda de um dos pais: alienação parental e a criança pode se sentir culpada pelo fim do casamento dos pais.
A partir destes traumas, os médicos criaram a pontuação ACE para avaliar os riscos da pessoa sofrer com os impactos negativos das experiências adversas na infância.
A cada uma das situações citadas acima, vivenciadas entre 0 e 18 anos de idade, soma-se um ponto no resultado.
Até a pontuação 3, a pessoa não fica tão exposta a sofrer os impactos negativos, mas acima da pontuação 4, a situação fica mais séria e o adulto tem maiores chances de apresentar.
Veja como as probabilidades aumentam com um resultado igual ou maior que 4:
Qualquer tipo de câncer: 1,9;
Derrame: 2,4;
Diabetes: 1,6;
Obesidade severa: 1,6;
De usar drogas ilícitas: 4,7;
De usar drogas injetáveis: 10,3;
Isquemia cardíaca: 2,2;
Bronquite crônica ou enfisema: 3,9;
Humor depressivo: 4,6;
Fumar: 2,2
Fonte: Felitti, 1998
Estes dados nos mostra que pessoas com alta pontuação de ACE tendem a serem mais violentas, terem problemas de relacionamentos, mais problemas de saúde, mais consultas médicas, mais problemas emocionais como depressão e burnout, mais doenças autoimunes, câncer e dificuldades para crescer na carreira.
Últimas considerações
Não estamos falando de um impacto momentâneo, mas sim de consequências de traumas ao longo de toda a vida.
E, eu nem me refiro apenas à violência física, mas sim às consequências de viver em um ambiente ameaçador, inseguro, estressante e baseado no medo com gritos, julgamentos, punições e críticas constantes ao comportamento da criança.
Um ambiente familiar cronicamente e altamente estressante aumenta a produção dos hormônios cortisol e adrenalina e, estes são prejudiciais ao desenvolvimento do cérebro da criança, levando a dificuldades de aprendizado, ansiedade, insegurança, problemas comportamentais e até a depressão.
Isso é muito sério. E quanto mais estudo sobre isso, maior é o meu desejo de levar esse conhecimento cada vez mais longe, porque ao ter contato com milhares de adultos percebo o quanto que os traumas de infância podem ser evitados através da educação emocional e do conhecimento sobre a biologia do comportamento humano.
Pois, o que é feito na infância não fica na infância, impacta e perdura até às próximas gerações. Traumas de infância é um assunto sério e complexo. Gostaria de me aprofundar mais aqui neste artigo, mas como o espaço é pequeno, sugiro a leitura do livro best seller “Educar é um ato de amor, mas também é ciência.”
Nesta obra você vai compreender melhor o funcionamento da nossa biologia humana e os impactos de uma infância violenta e sofrida na vida e nos resultados do adulto.
Até o próximo artigo,
Uma resposta
Eu sofri abusos na infância e isso me afeta até hj ansiedade TDAH insegurança eu mesma me sabotou em várias situações da minha vida queria me curar disso