Abusos de todas as formas, brigas nas escolas, tapas do marido em casa e até violência nas ruas tem uma relação direta com as palmadas, a agressividade, os gritos e as ameaças que uma criança sofre durante a infância.
No artigo de hoje eu vou explicar as multifaces da violência na infância e o que você pode fazer para reduzir as consequências.
Mas enquanto conversava com uma pessoa do meu time, uma pergunta foi feita e tem tudo a ver com a minha missão de impactar e transformar positivamente as famílias.
A pergunta parece simples, mas foi muito profunda para mim.
Ela me perguntou: “Telma, qual foi o seu maior medo quando se mudou para os EUA?”.
Não demorei muito para ter a resposta em minha mente: “dos tiroteios nas escolas”.
Eu morria de medo dos confrontos divulgados pela mídia e que matavam inúmeras crianças nas escolas. E mais medo ainda, dos autores desses tiroteios: grande parte das vezes eram crianças e adolescentes.
E, o mais assustador foi o que descobri quando comecei a estudar o comportamento infantil.
Existe uma relação direta entre esses tiroteios e a violência na infância.
Parece estranho, mas na grande maioria das vezes, por trás de um abusador e agressor existe uma criança que não teve as suas necessidades por afeto, segurança e conexão preenchidas e além disso grande parte deles sofreram abandono ou abusos emocionais, físicos ou sexuais na infância.
Além da violência física, existe também a violência emocional, que muitas vezes é silenciosa, mas que impacta profundamente o desenvolvimento de uma criança, que por estar em constante contato com este adulto intimidador, ela tende a desenvolver um grande medo e uma constante necessidade de se defender, pois seu sistema nervoso acaba ficando preso no modo “luta ou fuga”.
O abuso emocional existe quando existem gritos, críticas, ameaças e até tratamento de silêncio constantes. E esses abusos impactam a mesma área do cérebro que o abuso físico e coloca o corpo humano em estado de alerta.
Na verdade, o abuso ou negligência raramente ocorre em termos claros, simples e específicos. Eles resultam de combinações complexas de uma série de fatores humanos e situacionais.
Como seres humanos temos também o nosso lado instintivo que age de forma impulsiva e repetitiva e que pode negligenciar as necessidades das crianças, mesmo que de forma inconsciente.
Em um dia mais sobrecarregado no trabalho, você pode se sentir indisposto para brincar com o seu filho que chega e te pede colo, certo? Isso acontece, porque você está cansado e pode facilmente perder a paciência e ser dominado pelas emoções.
E, justamente por se deparar com uma situação que requer o uso de habilidades de enfrentamento que não foram bem desenvolvidas, você tende a abusar ou a negligenciar as necessidades de conexão do seu filho em determinados momentos.
Para evitar este tipo de situação você precisa desenvolver a habilidade de agir pela razão e não pela emoção.
O que é a violência na infância?
A Organização Mundial da Saúde define violência como o uso intencional da força física ou do poder, real ou ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou algum tipo de privação.
Nossa sociedade pune e reconhece como violência quando alguém bate em idoso na fila do banco, quando a mulher é agredida pelo marido ou quando um funcionário público recebe uma ofensa do paciente, mas existe outro contexto em que o agressor é visto como educador.
Refiro ao agressor que age com tapas, palmadas, gritos e ameaças para educar o agredido na tentativa de demonstrar amor e cuidado.
A verdade é que precisamos mudar isso urgentemente, não é normal agredir uma criança e dizer que foi feito por amor. O autocontrole e o bom exemplo educam. Agressões físicas e emocionais ferem.
A criança precisa receber amor, acolhimento, compreensão, segurança física e emocional para poder ter um bom desenvolvimento na infância e, assim, estabelecer relações saudáveis e respeitosas no futuro.
Não está tudo bem seguirmos acreditando que para uma criança se tornar uma pessoa de bem ela precise apanhar, ser castigada ou violentada de alguma forma.
Inúmeros estudos científicos comprovam que uma criança exposta a violência tende a desenvolver uma alta carga de estresse, que acelera seus batimentos cardíacos, altera pressão arterial e aumenta a produção de cortisol, prejudicando o seu desenvolvimento cognitivo e emocional durante toda uma vida.
Porém ao se sentir amada em relações saudáveis e respeitosas com adultos, tende se tornar um adulto mais saudável e com menos riscos de desenvolver doenças crônicas como depressão no futuro.
Contudo, se a criança continuar em ambientes tóxicos com gritos e agressões, sem a proteção de um adulto, ela tende a apresentar dificuldades de aprender, de se sentir amada, segura e de confiar nas pessoas.
Entender isso abre os nossos olhos para um problema muito maior: o ser humano não conhece a biologia do filhote da nossa própria espécie.
Ainda falta conhecimento sobre educação emocional para os adultos saberem se relacionar com as crianças de forma saudável, pois só assim criaremos seres humanos respeitosos, empáticos, felizes, prósperos e bem resolvidos na vida.
Últimas considerações
As crianças estão sendo impedidas de aproveitar a infância porque ficam expostas à violência e ao caos dentro de suas famílias. Elas são abusadas, punidas e agredidas por seus próprios pais, aqueles que deveriam amá-las incondicionalmente, mas que por falta de informação e conhecimento, acabam agindo com agressividade ou violência e chama isso de educação.
O problema é que as crianças, por ainda estarem em desenvolvimento e possuírem um cérebro imaturo, tentam comunicar o que sentem, mas não conseguem porque muitos adultos não conseguem perceber o que está por trás do comportamento desafiador de seus filhos.
Precisamos buscar conhecimento para protegermos a base da vida humana: a infância!
No meu livro “Educar é um ato de amor, mas também é ciência” aprofundo neste assunto tão importante e urgente. Nele você vai compreender mais profundamente como reduzir os impactos negativos de traumas de infância, mesmo quando a criança sofreu inúmeras violências.
Até o próximo artigo!
Um beijo,
Telma Abrahão
